segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Barak Obama e o Direito a igualdade

Barak Obama é o novo presidente dos Estados Unidos, será que este fato possibilitará que crianças negras de Salvador e do Brasil sonhem e quem sabe se preparem para ocupar cargos públicos de primeiro escalão? Será que um dia elas poderão atingir cargo de prefeito, governador ou presidente da República? Seria este fato aceito naturalmente em uma sociedade que se auto-afirma democrática racialmente?

sábado, 24 de janeiro de 2009

A Revolta dos Malês está completando 174 anos. Movimento que explodiu em 25 de janeiro de 1835, foi uma das mais importantes rebeliões de negros e negras da história do País. Praticamente omitida pela historiografia oficial, a Revolta é uma lição de garra e luta pela liberdade, mas também uma demonstração do grau de perversidade das elites dominantes.
A Revolta foi planejada por um grupo de africanos muçulmanos, de origem haussa e nagô, chamados de malês, devido ao fato de que, em ioruba, muçulmano é imale. Faziam parte do grupo, dentre outros, Ahuma, Pacífico Licutan, Luiza Mahin, Aprício, Pai Inácio, Luís Sandim, Manuel Calafate, Elesbão do Carmo, Nicoti e Dissalu. A data escolhida, o amanhecer de 25 de janeiro, coincidia com um dia importante do ponto de vista religioso: o fim do mês sagrado muçulmano, o Ramadã, e dos tradicionais festejos religiosos dedicados a Nossa Senhora da Guia, que manteriam ocupados os católicos.
O objetivo da conspiração era libertar seus companheiros islâmicos e negros em geral e matar brancos e mulatos considerados traidores. Uma meta que traduzia a complexa combinação entre escravidão negra e perseguição religiosa, imposta pelos colonizadores católicos.
Dois aspectos principais influenciaram todo o processo. Em primeiro lugar, diferentemente da maioria dos negros, que compunham mais da metade dos cerca de 20 mil habitantes de Salvador, os malês sabiam ler e escrever em árabe. Além disso, boa parte dos líderes da Revolta era formada por negros de ganho (escravos que faziam serviços urbanos, artesanato ou vendas, recebendo algo por isso) o que não só facilitava sua circulação pela cidade, mas também possibilitou que muitos deles comprassem sua alforria e, nos meses que anteriores à Revolta, adquirissem armas.
Nos dias que antecederam o levante houve uma intensa movimentação, sobretudo de escravos vindos do Recôncavo Baiano para Salvador. Viriam unir-se ao líder Ahuma, que havia sido preso e estava sendo brutalmente castigado. Além disso, o respeitado Alufá Pacífico Licutan, vítima de constantes maus tratos por parte de seu senhor, também se encontrava preso na cadeia municipal. É certo que as agressões sofridas por esses dois mestres foi o estopim para por em prática a revolta há muito planejada.
O número de pessoas envolvidas na preparação da rebelião (entre libertos, escravos, islâmicos e gente que professava outras religiões) varia de acordo com a documentação entre 600 e 1.500, a maioria esmagadora deles nascidos na África. Traição e massacre
Antes mesmo de eclodir, a Revolta foi denunciada por uma negra ao juiz de paz. A polícia invadiu, na noite de 24 de janeiro, a residência de Manuel Calafate, um dos locais de encontros e reuniões de africanos de fé islâmica. Resistindo à polícia, partiu dali um grupo de escravos que tentou assaltar a cadeia, ainda então instalada na parte baixa do prédio da Câmara Municipal. Outro grupo procurou avisar escravos e libertos malês que trabalhavam nas residências de cônsules e comerciantes estrangeiros. Reuniram-se cerca de 50 a 60 homens armados com pistolas, lanças, espadas e facas. Foram esses os que, primeiro, combateram com a polícia e atacaram o quartel que controlava a cidade.
De forma desorganizada, a Revolta tomou a cidade, mas, devido à inferioridade numérica e de armamentos, acabou sendo massacrada pelas tropas da Guarda Nacional, pela polícia e por civis armados que estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra.
Durante os confrontos, morreram cerca de 70 negros e aproximadamente 10 soldados das forças repressoras. Com a derrota, centenas foram presos, sendo condenados à deportação (muitos para a África, algo até então inédito no Brasil), a brutais castigos ou à pena de morte. Na seqüência do evento, instalou-se na Bahia, sobretudo em Salvador e Santo Amaro, a mais generalizada e cruel repressão contra os escravos que estendeu a perseguição a outros malês. O temor provocado pela rebelião foi tamanho que a corte imperial proibiu a transferência de qualquer escravo baiano para qualquer outra região do país.
Acima de tudo, apesar de derrotada, a Revolta serviu como inspiração fundamental para as lutas contra a escravidão, não só pelo exemplo que forneceu, mas também pelo envolvimento de muitos de seus líderes e participantes, como Luiza Mahin, em outros processos.
Luíza Mahin
Esta africana guerreira teve importante papel na Revolta dos Malês. Pertencente à etnia jeje, alguns afirmam que ela foi transportada para o Brasil, como escrava; outros se referem a ela como sendo natural da Bahia e tendo nascido livre por volta de 1812. Em 1830 deu a luz a um filho, Luis Gama, que mais tarde se tornaria poeta e abolicionista e escreveria as seguintes palavras sobre sua mãe: "Sou filho natural de uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã".
Luiza Mahin foi uma mulher inteligente e rebelde. Sua casa tornou-se quartel general das principais revoltas negras que ocorreram em Salvador em meados do século XIX, dentre elas a chamada Grande Insurreição, de 1835. Luiza conseguiu escapar da violenta repressão desencadeada pelo Governo da Província e partiu para o Rio de Janeiro, onde também parece ter participado de outras rebeliões negras, sendo por isso presa e, possivelmente, deportada para a África.

Os 174 anos da Revolta dos Malês

sábado, 17 de janeiro de 2009

RELIGIÕES: ORI, BORI, FOLHAS E SACRIFÍCIOS

Ori - Mito e Crença Afro-BrasileiraOri é a massa elementar que comanda o ser humano como um todo. Ele é a alma, a personalidade e o destino. Tudo se realiza com sua permissão.Diz o Oriki: Nada se faz se Ori não permitir!Ori - Alma e PersonalidadeOri tem a propriedade de ser controlador. Além de guiar a vida, comanda todas as atividades, físicas ou não. Ele armazena em um só local todas as informações necessárias para a existência do homem. Nele encontramos o Asé (força) que forma a personalidade do ser e faz com que cada um pense e haja de forma diferente.
Ori guarda todas a s chaves para o êxito da vida do homem, ou seja, inteligência, bons pensamentos e memória. Estas são qualidades do homem que integram Ori.
Ori tem a função de gestar o Asé do homem, ou seja, ele amadurece todos os Pensamentos, transformando-os ou aprimorando toda e qualquer idéia que passe Por ele.
Ori é independente do ser (corpo físico) e embora esteja ligado a ele, suas funções comandam todas as outras.
Ori recebeu três coisas essenciais para sua existência: A preparação para a vida na Aiye (terra) A preparação para a Iku (morte) e A preparação para a vida no Orum (céu) Isto possibilita que no Aiye exista a união Ori + Ara (corpo + cabeça). Mas atenção: mesmo que haja separação, no caso de morte, Ori nunca morre.
No caso de morte, Ori e Eledá (alma) se juntam e, caso necessário, realizam rituais como: Asese (vigília): para que possa haver a separação; Orisá Olori (senhor da Cabeça) e Ori, para que a alma ou o espírito possa seguir seu caminho no Plano astral.
Por ser uma parte concentradora de energias benéficas e maléficas, deve-se Ter todo cuidado ao deixar o Ori na mão de estranhos, mesmo que seja para Um simples carinho ou ritual. Lembrem-se que o sucesso ou fracasso depende do Ori e suas qualidades.
Algumas saudações: Olorire - pessoa de boa cabeça Olori Buruku - pessoa possuidora de cabeça ruim.
Nos próximos segmentos veremos mais sobre o culto a Ori, ou seja, Bori.
Oloye Henrique OmoafaiyáNascido em Nazaré das Farinhas, interior da Bahia, é filho da mistura de negros e brancos. Foi iniciado espiritualmente pela Iyalorisa Obá Aganju, no Asé Engenho Velho, onde recebeu o título de Oloye Omoafaiyá, há 26 anos.Quando jovem tinha muita curiosidade a respeito dos assuntos espirituais e ficava aborrecido quando suas perguntas eram respondidas de forma evasiva, o que aumentava seu desejo de conhecimento. Certo de que seria capaz de alcançar seus objetivos pesquisou e estudou profundamente a cultura Yorubá. Passava longas horas debruçado sobre livros, onde aprendia não só o dialeto, mas também cânticos, toques e danças gestuais, além do culto a Ori. Uma cultura a parte, intrigante e complexa. O culto a Ori é uma prática pouco difundida na própria cultura afro-brasileira, pois confunde-se com o culto aos Orisás.Apresentaremos aqui o resultado de anos de trabalho de Henrique Omoafaiyá para que nossos internautas conheçam como é cultuado o Ori e seus diversos segmentos dentro do culto afro-brasileiro.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

objetivos

Não se trata apenas de arte religiosa, ou funcional e que necessitamos de estudos profundos que nos levem a compreender melhor o sentido da abstração dessa produção. A arte africana contemporânea é fundamentalmente uma arte conceitual, comunicando idéias, conceitos, símbolos. E seu conhecimento pressupões informações sobre o universo cultural ao qual se refere.

confecção

Ainda entre estes tecidos está o estampado chamado Denkira, com figuras diferentes que se combinam para compor um desenho ou determinar um motivo fundamental.
Os desenhos são imersos em uma tintura vegetal e impressos em tecido branco estendido em uma almofada.

Os Fon, e outros grupos, recorrem ao tecido estampado com desenhos multicoloridos, à maneira de appliqueé. Com esta técnica fazem peças destinadas a vestimentas. Nestes casos o desenho reproduz histórias e vivências e até pequenos acontecimentos engraçados na trajetória de seus donos e de grandes personalidades. Para a execução deste trabalho dão preferência aos tecidos escuros sobre os quais o artista ou qualquer outra pessoa com criatividade, vai prendendo os desenhos coloridos costurando-os nas bordas. Os mesmos desenhos são repretidos várias vezes e em várias posições e cores.

Entre os Iorubá, principalmente é costume o estampado em azul índigo, trabalham diversas técnicas mas não excluem o batik, muito empregado em África.

Outra expressão plástica entre os Ioruba, é a gravura das louças, tigelas e demais recipientes.

A produção da escultura em marfim ocorreu em larga escala, porém nos últimos anos, devido à proibição da caça aos elefantes pelo risco da extinção da espécie, ou ainda a intervenção das ONGs que se ocupam da preservação do meio ambiente: fauna e flora, houve uma escassez do material e uma diminuição da produção. Antigamente, faziam peças pequenas para serem usadas como proteção, braceletes, pequenas figuras de animais especialmente leopardos. Também haviam esculturas em madeira com marfim incrustado. Em menor quantidade estão os objetos esculpidos em pedra dura.Utilizam o ferro à partir de uma prancha fundida mediante pressão e calor. São confeccionados muitos atributos em várias formas pelos Abomei, de quem é a imagem da entidade Gu, dono do ferro representado por uma figura antropomorfa. Com a mesma técnica são encontrados vários atributos a diversas entidades e também vários instrumentos musicais.

A fundição do bronze na cidade Iorubá de Ifé e logo após Benin, tornou-se a expressão mais desenvolvida da plástica tradicional africana, influindo e criando múltiplas variantes de fundição do bronze em outros núcleos desta região.No ano de 1300 o soberano de Ifé, a cidade sacralizada, enviou um de seus descendentes ao reino de Benin para conhecer suas técnicas e aplicá-las em seu regresso, o estilo da arte em bronze do Benin é um testemunho das relações estreitas entre os dois reinos, mas os Ioruba, os superaram, na técnica e na delicadeza de sua arte.O bronze de Ifé parte de um estilo de modelação como a Terracota. Seus antecedentes tem sido encontrados nas terracotas de Nok. Nestas os detalhes da figura humana estão um pouco sintetizados, destacando algumas marcas regionais, e nisto, assim como nas proporções gerais diferem das de Ifé, nas que se percebe a busca dos modelos anatômicos, como se fossem retratos, dentro de um tamanho menor. As cabeças de bronze apresentam variedades de caracteres faciais, presos em detalhes sutis que permitem apreciar diferentes expressões nos rostos e até incluem algumas deformações anatômicas.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

escultura

A escultura em madeira se estende á fabricação de múltiplas figuras que servem de atributo às divindades, podendo ser cabeças de animais, figurinhas alusivas a acontecimentos, fatos circunstanciais pessoais que o homem coloca frente às forças.
Existem também objetos que denotam poder, como insígnias, espadas e lanças com ricas esculturas em madeira recoberta por lâminas de ouro sempre com motivos alusivos à figura dos dignatários.
Os utensílios de uso cotidiano, portas e portais para suas casas, cadeiras e utensílios diversos sempre repetindo os mesmo desenhos estilísticos.
Além das esculturas em madeira existem os objetos confeccionados com fragmentos de vidro das mais diversas cores, colocados em gorros, possuindo uma gama de figuras humanas e de animais, feitas com fio de algodão que recobrem todo o tecido, colocados sempre em combinação vertical. As pedras podem ser alternadas por cauris, canudilhos metálicos ou de seda e algodão.
Os tecidos são lisos ou estampados, os bordados são rebordados com linhas e com pedras de vidro. Confeccionam roupas longas e gorros. A criatividade do bordado com pedras de vidro está muito difundida nas populações da República da Nigéria. Os suportes para abanos, crinas e rabos de animais, também decoram com pedras de vidro, canudilhos e cauris.
Os tecidos e o vestuário alcançaram um desenvolvimento plástico considerável em zona de sultura urbana, assimilando muitos elementos da indumentária islâmica e outros introduzidos pelos europeus colonialistas. O tear horizontal, permitiu a confecção variada de tiras que posteriormente se juntam longitudinalmente para formar tecidos maiores.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Gueledeé

Gueledeé – são pequenas, tipo tabuleiro se carrega sobre o busto. Cobre-se o rosto do portador com tecidos ajustados à máscara, e à nuca do portador que enxerga através de orifícios feitos neste tecido. Estas máscaras representam, de maneira sintética, personagens ligados à incorporação mística, para issso recorrem à escultura em madeira com alguns detalhes que sobrepõem à máscara. Os traços faciais compõem rostos largos, de lábios salientes bem demarcados, inclusive no centro. Os olhos amendoados, as pálpebras superiores muito amplas e s pupilas vazadas. Para as orelhas possuem grande variedades de formas e são enxertadas na altura do olho. Os rostos apresentam algumas escarificações. Estas máscaras são policromadas com tinta e água em cores contrstantes e em algumas zonas de expansão ioruba chegam a ser enriquecidas com duas faces uma ao lado da outra ou opostas.
Epa – máscara elmo, em madeira, tem sua base que cobre toda cabeça do portador apoiada em seu ombro. Sobre o capacete há uma plataforma composta de figuras. O trabalho é realizado em uma única peça, o elmo, o platô e um tronco central que representa um tema, circunstancia ou acontecimento. Outras figuras podem ser entalhadas ao redor por meio de resinas, desde a plataforma do elmo. Este contrasta pela simplcidade, pois representa somente os olhos e algum outro detalhe facial. Os olhos de forma amendoada, com duas bordas, tem o globo ocular vazado para indicar as pupilas. Algumas máscaras tem duas ou mais plataformas com figuras superpostas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Arte Africana
A arte africana envolve um espectro diferenciado, desde representações em pinturas, esculturas e objetos ornamentais de uso permanente e cotidiano para comemorar os ancestrais, cultuar as forças naturais, invocar forças vitais, propiciar boas colheitas, até objetos em geral que acompanham os ritos, as danças e as cerimônias religiosas em sua ampla gama de singularidades.
Na maior parte da literatura sobre essa produção estética uma grande ênfase foi colocada sobre o caráter utilitário e religioso da mesma. Quase todos os autores são unânimes em afirmar que a expressão "arte’ não tem sentido nessas sociedades, porém BALOGUN assim a interpreta:
Tem sido frequentemente dito que a arte era uma linguagem universal, capaz de franquear todas as distâncias e de transmitir uma mensagem a todos os homens, fosse qual fosse a sua raça ou fé. Por mais sedutora que esta imagem possa parecer, não deixa, por isso de ser verdade que, tal como muitas vezes o verificamos, numerosas obras de arte estão estreitamente ligadas aos fatores sociais, históricos e específicos da sociedade nas quais surgiram e se desenvolveram que não são imediatamente acessíveis àqueles que são estranhos ao meio no qual elas se formaram. Sucede, por vezes, que a obra de arte perde mesmo todo o seu poder de comunicação quando é apresentada num quadro diferente daquele em que surgiu. A linguagem de uma obra de arte, isto é, a sua forma, pode ser totalmente indecifrável para aqueles que não possuem em comum com ela os elementos que permitem interpretá-la, ... Mesmo se se compreender a forma de que se reveste uma dada obra de arte afim de estabelecer uma comunicação, nada garante que o conteúdo real da mensagem da qual ela é o veículo seja acessível àquele que permanece estranho ao clima que presidiu à sua criação.
E prosseguindo:
... (1977:37,38). A linguagem da arte só ganha em caráter universal se se conhecer o contexto histórico e sócio-cultural no qual cada obra de arte foi realizada ou, pelo menos, se se estiver disposto a esquecer por alguns instantes os critérios que herdamos dos nossos antepassados.
(balogun, 1977: 37,38)
Autores contemporâneos a tem analisado já com esta visão, isto é, conhecendo primeiro as representações plásticas de cada grupo das distintas civilizações que conformam o continente, a exemplo citamos MONTIEL:
Esta "arte" tem estado sempre vinculada ao desenvolvimento das capacidades técnicas ou artesanais e às formas econômicas, com as relações sociais e as instituições que regem os vínculos entre os membros de uma sociedade. Por isso, expressa a capacidade no trabalho de metais, madeira, conchas, pedras, etc. Em síntese, na arte encontram-se todas as representações coletivas. (montiel,1992:28)
As máscaras são as formas mais conhecidas da plástica africana. Constituem síntese de elementos simbólicos mais variados se convertendo em expressões de vontade criadora do africano; foram os objetos que mais impressionaram os povos europeus desde as primeiras exposições em museus do Velho Mundo, através de milhares de peças saqueadas do patrimônio cultural da África, embora sem reconhecimento de seu significado simbólico.
Uma máscara é um ser que protege quem a carrega. Está destinada a captar a força vital que escapa de um ser humano ou de um animal, no momento de sua morte.
A máscara transforma o corpo do bailarino que conserva sua individualidade e, servindo-se dele como se fosse um suporte vivo e animado, encarna a outro ser; gênio, animal mítico que é representando assim momentaneamente (laude,1968:144)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

120 anos de desinstitucionalização da escravidão no BrasilPassado 120 anos da desinstitucionalização da escravidão no Brasil, é possível dizer que o Estado tem imenso débito com a população negra, depositária dos sonhos e das projeções que moveram a população escravizada, liberta e fugitiva a colocar sua vida em risco pela causa da liberdade.


Estamos muito longe de completar o significado mais profundo das palavras liberdade e abolição, embora institucionalmente a Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888, significou um avanço para o Brasil. Enterrou definitivamente um regime sócio-econômico em avançado estágio de putrefação e coroou a luta abolicionista - maior e mais importante exemplo de vitória de movimento de massa popular, iniciado no primeiro repúdio e ação organizada do escravo contra o jugo do senhor, desde os primeiros anos do século 16 e culminou em finais do século 19, somando quase 388 anos de lutas ininterruptas. Os baluartes do processo abolicionista figuram entre negros e brancos, desde Zumbi, Luiza Mahin, Luís Gama e José do Patrocínio a Castro Alves, Antonio Bento, Raul Pompéia, Chiquinha Gonzaga e milhares de heróis e heroínas anônimas que dispuseram de fortuna, segurança física e a própria vida para que não houvesse mais escravidão em terras brasileiras.

A incompletude da abolição legou ao Brasil contemporâneo sérios problemas sociais, oriundos de orientação racista da elite oligarca, responsável pelo projeto que moldou a toda estrutura institucional do Estado nacional republicano. A oligarquia vencedora do jogo político no processo de transição do escravismo ao trabalho livre não permitiu a conclusão da abolição em indenização pecuniária, terras, trabalho, educação, participação política e oportunidade de mobilidade social aos libertados do cativo e seus descendentes. Ao contrário, os poderosos cafeicultores paulistas, os coronéis semifeudais, a burguesia nacional dezenovista e sua geração imediata, através do Estado empreenderam uma política de profunda marginalização e genocídio do elemento negro, negando-lhe direitos sociais básicos, com uso de extremada violência física e investindo fartos recursos na imigração européia. O negro pertencia a um extrato social que deveria ser extinto, pois, segundo os donos do poder, expressava a inferioridade e incapacidade do Brasil civilizar-se, não estava apto a viver na alvissareira sociedade capitalista.

Acumulamos vergonhosas desigualdades políticas, econômicas e educacionais entre negros e brancos, conforme dados oficiais do IBGE e estudos do IPEA; temos profundas desigualdades regionais, os estados mais pobres são os demograficamente mais negros e indígenas; vivemos sob o domínio de uma elite racista, gananciosa, violenta, lacaia do imperialismo estrangeiro, campeã em concentração de renda; uma classe média egoísta, reacionária, silenciosa ante o racismo, mas que resiste com veemência qualquer sinalização de políticas públicas que promovam a população pobre e negra, preocupada em salvaguardar seu privilégio; grande parte da classe política nacional está sob o jugo de caciques regionais, burgueses oportunistas mergulhados em cobiças, comprometidos com interesses inconfessáveis e distantes dos anseios da coletividade. A iniqüidade do racismo perdura, estabelece o grau de oportunidade e status social, segundo a cor da pele e descendência.

Por outro lado, passados 120 anos da desinstitucionalização da escravidão no Brasil, também, é possível dizer que o forte e bravo povo brasileiro tem acumulado vitórias com alto grau de perenidade para promoção da igualdade econômica e social entre negros e brancos, no aprofundamento da democracia e na imposição de um projeto da classe trabalhadora. Vitórias acumuladas na luta política do movimento negro e popular que, objetivamente, não tem permitido a aplicação integral de um projeto racista, conservador e reacionário para o Brasil – hoje representado pelos defensores do neoliberalismo. A luta contra o racismo está num patamar mais elevado, posicionamentos declaradamente racistas não tem sustentação de ordem filosófica, moral, social e política, a sociedade brasileira repudia – a exemplo da infeliz declaração do então Coordenador do Curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia – UFBA, quando indagado sobre a razão da baixa média na notas dos alunos baianos.

Consolidamos um ordenamento jurídico anti-racista que criminaliza a prática do racismo, preconceito e discriminação racial e nos associamos a todas as Declarações Internacionais em defesa dos Direitos da Pessoa Humana, contra o racismo, discriminação racial ou de gênero. Pautamos o Poder Legislativo em todas as esferas com projetos de valorização e promoção social da população negra. Desmistificamos a falsa democracia racial, impomos ao Estado brasileiro o reconhecimento da existência e incidência negativa do racismo sobre a população negra no Brasil. Instituímos nos âmbitos das administrações públicas nos municípios, estados e união estruturas voltadas ao combate do racismo e promoção da igualdade social entre brancos, negros e índios. Investimos na educação problematizando a aplicação de um currículo essencialmente eurocêntrico; viabilizando o acesso da juventude negra nas universidades através dos cursinhos pré-vestibulares, cotas e Pró-Uni – campo em que enfrentamos fortíssima resistência. Aumentamos a presença do negro em diversos espaços antes negados – alto escalão da República e no Poder Executivo, na Alta Corte e outros espaços importantes do Judiciário, na televisão, no comando dos partidos políticos, dos sindicatos, etc.

Em ritmo lento estamos mudando o Brasil, a despeito do vaticínio contrário dos reacionários representados pelos que entregaram, no dia 30 de abril, ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, um manifesto com um sugestivo e hipócrita título: "113 Cidadãos Anti-Racistas Contra as Leis Raciais", cujo objetivo é de impedir a implantação de qualquer política que resgate a dívida do país com a população negra, reconcilie a nação reparando os graves erros do passado. Essas mudanças são integradoras devem ser aprofundadas e intensificadas, pois unirão a coletividade étnica nacional, romperão a trava moral que oblitera a grandeza e impede o desenvolvimento do país. O Brasil tem jeito, seremos um país próspero na medida em que destravarmos um dos principais motivos de nosso atraso: o desperdício de talentos que o racismo produz.